Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
- 1 March 1962
- journal article
- Published by FapUNIFESP (SciELO) in Arquivos de Neuro-Psiquiatria
- Vol. 20 (1) , 17-30
- https://doi.org/10.1590/s0004-282x1962000100002
Abstract
Entre os aspectos biológicos da neurocisticercose, têm sido mais exploradas as alterações do líqüido cefalorraquidiano (LCR) em vista do seu valor diagnóstico. Para analisar os conhecimentos quanto ao quadro liquórico da afecção são apresentados 03 achados referentes a 62 caco3 acompanhados na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em todos êstes casos a infestação do sistema nervoso central (SNC) e/ou de seus envoltórios pelo cisticerco foi comprovada pela necropsia ou durante intervenção cirúrgica (biopsia). A análise do material e da literatura sôbre o assunto permite as seguintes conclusões: 1 - Entre os exames complementares, o exame do LCR é aquêle que permite com maior freqüência o diagnóstico em vida da neurocisticercose. A demonstração da presença de anticorpos específicos é o elemento fundamental para o diagnóstico liquórico; a ecsinofilorraquia complementa esse dado e tem valor sugestivo. 2 - Na neurocisticercose, a eosinofilorraquia costuma ser tanto mais intensa quanto mais nítida a pleiocitose liquórica; entretanto, a presença de células eosinófilas no LCR pode decorrer' de outras causas e sua ausência não infirma o diagnóstico. A eosinofilorraquia permite avaliar a intensidade da reação hiperérgica desencadeada pelo parasito e possibilita orientar o diagnóstico em casos duvidosos. 3 - Na cisticercose há formação de anticorpos específicos, demonstráveis por meio de reações de precipitação e de fixação do complemento; esta última é a mais largamente utilizada. Os anticorpos são semelhantes aos que aparecem no parasitismo por outros cestóideos. Quando localizados no SNC e/ou em seus envoltórios, são os cisticercos os cestóideos que, com maior freqüência e em maior intensidade, desencadeiam reações imunitárias, determinando o aparecimento de anticorpos específicos no LCR. 4 - A evolução do quadro liquórico é variável e nem sempre acompanha a evolução clínica. Quando esta é satisfatória, costumam desaparecer progressivamente as alterações do LCR; se estas se mantiverem por longo tempo, o prognóstico é mais reservado, especialmente quando aparece hipoglicorraquia. Em alguns casos, após intervenções cirúrgicas há rápida remissão das alterações do LCR; provavelmente isto ocorre nos casos em que a infestação do encéfalo era discreta, ou mesmo única. Quando ocorre rotura da vesícula parasitária durante a intervenção cirúrgica, o liqüido contido em seu interior acarreta exacerbação transitória das alterações do LCR. 5 - As alterações do proteinograma do LCR na neurocisticercose são do tipo verificado em processos inflamatórios subcrônicos e crônicos do SNC e de seus envoltórios, caracterizando-se especialmente por aumento de γ-globulina. Êste aumento está relacionado à intensidade da reação imunopatológica e provavelmente é devido à produção local dessa globulina, que parece ser a carreadora dos anticorpos específicos. O aumento de γ-globulina é precoce, podendo preceder a formação dos anticorpos específicos e costuma regredir lentamente nos casos de evolução satisfatória. Quando a evolução é má, o teor dessa globulina costuma aumentar progressivamente.Keywords
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