Abstract
A Nova Ciência e as artes experimentaram um grande desenvolvimento na Holanda do século XVII. Os anfiteatros de anatomia de Leiden, Delft e Amsterdã tiveram uma relevância especial nesse desenvolvimento. Esses anfiteatros foram importantes centros culturais de artes e ciências, pontos de encontro de artistas e cientistas e locais abertos a eventos públicos. Qual o papel da anatomia no surgimento e expansão da ciência moderna? Muitos estudiosos acreditam que a religião, melhor dizendo, a moralidade, fazia forte objeção à anatomia, mas, se assim for, fica difícil explicar por que os anfiteatros de anatomia alcançaram tamanha significação. A tese de Michel Foucault é a de que não houve impedimento por parte da religião e da moral, e sim um antagonismo entre dois discursos médicos, o da clínica (do lado da vida) e o da anatomia (do lado da morte). Este artigo examina a tese de Foucault, investigando as práticas e regulamentos da anatomia na Itália, Holanda, Inglaterra e França pré-modernas. As conclusões sugerem que, além do antagonismo dos discursos médicos, também tiveram importância as opiniões conflitantes a respeito do ensino, das condições do progresso científico e, principalmente, o interesse do governo na anatomia. A questão de se os padrões morais foram um obstáculo ao progresso da ciência relacionava-se essencialmente a uma política do corpo.
Keywords

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