Saúde, minorias e desigualdade: algumas teias de inter-relações, com ênfase nos povos indígenas no Brasil

Abstract
No Brasil, não há uma produção sistemática acerca do peso da dimensão étnico-racial na expressão diferenciada dos agravos à saúde. No cotidiano, minorias vivenciam situações de exclusão, marginalidade e discriminação que as colocam em posição de maior vulnerabilidade frente a agravos à saúde. Neste texto é enfocada, em particular, a situação dos povos indígenas. Coeficientes de morbi-mortalidade mais altos do que os registrados em nível nacional, fome e desnutrição, riscos ocupacionais e violência social são apenas alguns dos múltiplos reflexos sobre a saúde decorrentes da persistência de desigualdades. É importante que sejam realizados esforços no sentido de reverter uma preocupante invisibilidade demográfica e epidemiológica resultante da ausência de informações confiáveis para as populações indígenas nas bases de dados oficiais. Isso possibilitará compreender melhor a gênese, determinantes e formas de reprodução das desigualdades em saúde no Brasil. Tais conhecimentos são fundamentais para o embasamento tanto de atuações políticas, inclusive por parte de lideranças indígenas, como de intervenções com vistas à promoção da eqüidade em saúde. In Brazil, few studies have analyzed the impacts of the ethnic-racial dimension upon the expression of health issues. In their daily lives, minorities experience situations of exclusion, marginality and discrimination that make them particularly vulnerable to health problems. In this paper we primarily focus on indigenous peoples. Rates of morbidity and mortality above national levels, hunger, undernutrition, occupational hazards and social violence are some of the multiple health-disease outcomes that derive from the persistence of inequalities. It is important that conditions are created in order to revert the current situation of demographic and epidemiological "invisibility" faced by indigenous peoples in Brazil, which in part stem from the absence of information about them in national databases. This will allow for a better understanding of the genesis, determinants and ways of reproduction of health inequalities in Brazil, thus potentially informing political actions and fostering interventions